Quando meus filhos nasceram eu vivi um dilema.
Achava que contando as estórias dos personagens festivos estaria, de certa forma, enganando eles.
E como seria o dia que eles descobrissem a verdade? Eu ia, simplesmente, falar:
"Pois é, galera, não existe mesmo, eu menti, fazer o quê..."
Não fazia sentido isso, na minha cabeça.
Mas todos a minha volta me convenceram com o argumento "
Ninguém morre ao descobrir que não existe Papai Noel, deixa eles viverem essa magia"
E de fato, quando a magia teminou pra mim, eu não sofri.
Deixei, então.
Só que hoje, meus filhos mais velhos com 11 e 9 anos, e a pequena com 4, o dilema mudou.
O de 11 está convicto sobre a não-existência deles e vive bem com isso.
A de 4 ainda vive nos contos de fadas.
Mas o de 9... Esse tá dando um trabalhão!
No Natal passado não tivemos grandes problemas. Correu tudo bem. Ele ainda tinha as suas dúvidas, mas conseguimos driblar as certezas e ganhamos muitos sorrisos de alívio pelo Papai Noel ter atendido os seus pedidos.
Antes da Páscoa, estavámos falando sobre o coelho, e os pedidos de Páscoa, e ele se mostrou convencido de que não havia coelho nenhum. Ok. Já estava na hora mesmo... então falei com naturalidade sobre a brincadeira que eu faria na fazenda, com a criançada. Ia esconder os ovos para todos procurarem, e avisei os grandes: "
Vocês fiquem quietos, não vão falar que fui eu que escondi, porque a Lia e os amigos são pequenos e vão achar que foi o Coelhinho"
Pronto.
Arrumei um problemão.
Entramos num clima de revolta.
Percebi que caí numa armadilha das grandes.
Ele estava se comportando com indiferença para ver o que colhia. Colheu a verdade, e se revoltou!
-
Eu vou falar a verdade para todos.
- Não faz isso, Luca. Vai acabar com a magia toda.
- Você acabou com a minha...
É, minha gente, com dedo na cara e tudo.
E o que eu podia fazer diante disso?
Quando vi que no fundo ele ainda acreditava, tentei contornar dizendo que o coelho traria os ovos deles aqui em casa no domingo, e que seria só uma brincadeira, mas, obviamente, não adiantou.
A tristeza e a culpa (aquela materna) tomaram conta de mim.
Porque eu tinha deixado eles acreditarem?
Como eu caí na armadilha de um garoto de 9 anos?
E a revolta continuou...
Comprei um ovo para os adultos comerem lá no feriado, ele passou pela fruteira, onde estava o ovo, e com cara de mágoa, falou:
-
É... o coelho esconde muito bem os ovos, mesmo.
- Esse eu comprei para os adultos, filho.
A brincadeira aconteceu, e ele até que se divertiu.
Quando chegamos em casa domingo, o ovo preferido dele estava escondido no armário de roupas, e ele veio me mostrar com o sorriso mais lindo do mundo!!!
O por quê do sorriso?
Pode ser por alivio, do coelho não ter esquecido dele, ou pela gratidão de ter ganhado o chocolate da mãe... não sei, e não perguntei.
Também não sei mais se o meu filhote vai colocar os dentes de leite debaixo do travesseiro, e escrever a carta pro Bom Velhinho...
Na dúvida, continuaremos a magia por mais algum tempo... nem que seja só pela Lia!
Mais um erro fatal para a minha lista.
Não há nada que um chocolate não faça esquecer!!!
Nem que seja por alguns instantes.