quinta-feira, 12 de abril de 2012

Luca, Millor e um conceito.

Hoje, no carro, eu conversava com meu filho sanduiche sobre a beleza e a feiura.
Ele me garantia que só existe gente feia ou bonita. Eu defendia o meio termo, mas ele arrematou fechando em 6 categorias:

  1. Feio pra burro
  2. Muito feio
  3. Feio
  4. Bonita
  5. Muito bonita
  6. Sem palavras

Observe que quando o adjetivo é feio, vem no masculino. E bonita, claro, no feminino.

O papo foi a deixa para eu introduzí-lo a uma teoria de Millor Fernandes, que vem em forma de uma crônica deliciosa, chamada "Foda-se".
Para quem não conhece, apresento já:

"O nível de stress de uma pessoa é inversamente proporcional a quantidade de foda-se! que ela fala.
Existe algo mais libertário do que o conceito do foda-se!?

O foda-se! aumenta minha auto-estima, me torna uma pessoa melhor. Reorganiza as coisas. Me liberta. - Não quer sair comigo ? Então foda-se!

- Vai querer decidir essa merda sozinho(a) mesmo? Então foda-se!.

O direito ao foda-se! deveria estar assegurado na Constituição Federal.

Os palavrões não nasceram por acaso. São recursos extremamente válidos e criativos
para prover nosso vocabulário de expressões que traduzem com a maior fidelidade
nossos mais fortes e genuínos sentimentos.

É o povo fazendo sua língua. Como o Latim Vulgar, será esse Português Vulgar que vingará plenamente um dia.

Prá caralho, por exemplo. Qual expressão traduz melhor a idéia de muita quantidade do que Prá caralho?

Prá caralho tende ao infinito, é quase uma expressão matemática. A Via-Láctea tem estrelas prá caralho, o Sol é quente prá caralho, o universo é antigo prá caralho,
eu gosto de cerveja prá caralho, entende?

No gênero do Prá caralho, mas, no caso, expressando a mais absoluta negação,
está o famoso Nem fodendo!.

O Não, não e não! e tampouco o nada eficaz e já sem nenhuma credibilidade Não,
absolutamente não! o substituem. O Nem fodendo é irretorquível, e liquida o assunto.

Te libera, com a consciência tranqüila, para outras atividades de maior interesse em sua vida. Aquele filho pentelho de 17 anos te atormenta pedindo o carro pra ir surfar no litoral? Não perca tempo nem paciência. Solte logo um definitivo: Marquinhos presta atenção, filho querido...Nem fodendo!. O impertinente se manca na hora!

Por sua vez, o porra nenhuma! atendeu tão plenamente as situações onde nosso ego exigia não só a definição de uma negação, mas também o justo escárnio contra descarados blefes, que hoje é totalmente impossível imaginar que possamos viver sem ele em nosso cotidiano profissional: ele redigiu aquele relatório sozinho porra nenhuma!.

O porra nenhuma, como vocês podem ver, nos provê sensações de incrível bem estar interior. É como se estivéssemos fazendo a tardia e justa denúncia pública de um canalha.

São dessa mesma gênese os clássicos aspone, chepone, repone e mais recentemente, o prepone - presidente de porra nenhuma.

Há outros palavrões igualmente clássicos.

Pense na sonoridade de um Puta-que-pariu!, ou seu correlato Puta-que-o-pariu!, falado assim, cadenciadamente, sílaba por sílaba... Diante de uma notícia irritante qualquer puta-que-o-pariu! Dito assim te coloca outra vez em seu eixo. Seus neurônios têm o devido tempo e clima para se reorganizar e sacar a atitude que lhe permitirá dar um merecido troco ou o safar de maiores dores de cabeça.

E o que dizer de nosso famoso vai tomar no cu!? E sua maravilhosa e reforçadora derivação vai tomar no olho do seu cu!.

Você já imaginou o bem que alguém faz a si próprio e aos seus quando, passado o limite do suportável, se dirige ao canalha de seu interlocutor e solta:

Chega! Vai tomar no olho do seu cu!.Pronto, você retomou as rédeas de sua vida,
sua auto-estima. Desabotoa a camisa e sai a rua, vento batendo na face, olhar firme, cabeça erguida, um delicioso sorriso de vitória e renovado amor íntimo nos lábios.

E seria tremendamente injusto não registrar aqui a expressão de maior poder de definição do Português Vulgar: Fodeu!. E sua derivação mais avassaladora ainda: Fodeu de vez!.

Você conhece definição mais exata, pungente e arrasadora para uma situação que atingiu o grau máximo imaginável de ameaçadora complicação? Expressão, inclusive, que uma vez proferida insere seu autor em todo um providencial contexto interior
de alerta e autodefesa. Algo assim como quando você está dirigindo bêbado, sem documentos do carro e sem carteira de habilitação e ouve uma sirene de polícia atrás de você mandando você parar: O que você fala? Fodeu de vez!.

Liberdade, igualdade, fraternidade e foda-se!!!"
Depois de resumir rapidamente o conceito para meu filhote, ele resolveu mudar o item 6 para: "Bonita pra caralho". 
Achei justo.


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7 comentários:

  1. hahahahaha é justo mesmo!

    E bem a cara de menino esperto pra caralho! =)

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  2. Hahahaha que OTIMOOOOOOOOOOOOO pegou rapidiinho

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  3. hahahahahahahahahahah
    Ta certissimo rsrs...
    É cada uma desses meninos ;)
    Bjs

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  4. O melhor post da semana de todo o meu blogroll!!!
    Não conhecia, adorei!
    Beijos

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  5. Nossa muito bom, eu quase li em voz alta prá me libertar de vez com todos esses palavrões..kkkkkk

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  6. Adoreiiiiiiii..sem palavras..quer dizer p mim nunca é sem palavras..sempre falo muitoo,,,,que Post do cacete(será que tem teoria?)....ow arrazou na iniciativa de dividir isso com a gente,,,,Já fã ,já seguidora....bjss

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